Futilidade?
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por Ana Farias |
Outro dia fui procurada pela Priscilla Garcez, uma das meninas (menina mesmo) mais fofas que já tive a oportunidade de conhecer. Ela é estudante de jornalismo, e precisava entrevistar alguma blogueira pra um trabalho da faculdade. E me escreveu, perguntando se eu topava. Quem me conhece sabe que sou o ser mais tímido desse mundo, e a conversa envolvia gravar um vídeo. Mas claro que disse que sim, como poderia negar um convite desses? E achei tão engraçado ela me agradecer, porque né, quem tinha que agradecer era eu.
Porque pensem bem, de quem era a honra ali? Toda minha, é claro, que gerei interesse o suficiente em alguém pra que ela pensasse em mim, não é verdade? Nem sei se fui décima quinta opção (fui, Pri? rs), mas ainda que tenha sido. Pra mim é sempre um prazer muito grande quando alguém que lê o blog me pede coisa parecida – uma dica, uma opinião. Ou escreve pra dizer que foi atrás de alguma indicação e adorou. Porque eu sempre penso assim, meo, quem sou eu. Eu só fico é feliz de verdade quando posso ajudar.
Me lembro quando dividia apê com a Carol, essa amiga que apareceu no post do Mickey Jagger, e eu tava numa crise sem fim com o caminho profissional que tinha escolhido. Cara, que coisa fútil é essa que eu faço na vida. Dar aula de francês! Claro que achava uma delícia ensinar, interagir com os alunos (com alguns alunos, pelo menos, especialmente os coroa bunito), passar um conhecimento e aprender por tabela. Mas não era nada que mudasse realmente ninguém.
Porque aprender francês muda o que na sua vida, a não ser que você precise muito disso pra um emprego, uma viagem, um curso, um sonho desse tipo? É um desvio pro que você quer de verdade. E eu queria ter feito uma faculdade que me permitisse dar alguma contribuição ao mundo, ajudar gente que precisa de verdade, tipo ser um Medécin sans Frontières, qualquer coisa que gerasse um retorno (porque, apesar dos problemas, minha vida de um modo geral é MUITO boa). Mas com minha especialidade, ãhn, fazer o quê? E eu sei que isso vai soar piegas e/ou populista pra algumas pessoas, mas bom, só tô sendo bem honesta.
Aí o tempo passou, e anos depois descobri que aquele blog no qual eu escrevia coisinhas de mulher, futilidades, “besteiras”, acabou se tornando uma válvula de escape pra essa minha necessidade. Não é que eu ache que causo alguma mudança relevante no mundo, pelamor. Porque eu moro na Terra, tá gente. Mas com certeza já ajudei de alguma forma umas duas ou três pessoas. Gente que me mandou email quilométrico pra contar sobre a vida, sobre como um post besta meu alegrou o dia, ou tocou de alguma forma. E são essas pessoas que me mostram que não importa o que você faça, sempre existe a possibilidade de se promover alguma mudança em quem você atinge. Eu não tô desenvolvendo aqui um trabalho com gente carente de saúde, de comida, de educação, mãns, de vez em quando, alguém me mostra que a vida melhorou um pouquinho porque alguma dica que eu dei ajudou a levantar sua auto-estima.
Aí eu deduzo que: blog de futilidade? Não creio. Se sentir bem consigo mesma é ser fútil? Ser feliz com a tela que deus nos deu, e melhorá-la dentro das nossas possibilidades, pra que a gente esteja sempre se sentindo no auge do nosso mojo (né?), isso pra mim não é bobeira não, é questão de sobrevivência. Numa sociedade que valoriza tanto a imagem, em que a gente é bombardeada pra se sentir diminuída praticamente o tempo todo, se sentir segura consigo mesma é vital, não é tolice.
A gente pensa que o que faz é só falar de batom, mas não. Dependendo do que se escreve num blog, e da forma que se escreve, a gente pode ajudar um tiquinho alguém que esteja precisando de um toque mínimo naquele momento X. De vez em quando. Uma vez a cada semestre. Um pouquinho mesmo. Mas é um pouquinho que lá na frente pode representar tanto pra essa pessoa. Quem pensa o contrário, nunca recebeu um email contando uma história que emocionasse.
Aí voltei no tempo. Lembrei que dei aula durante alguns anos pra uma menina linda, a Amanda. E ela seguiu estudando francês – só que em Paris. Foi viver o sonho, e eu tive uma pequena participação nisso. Ajudei com o que pude, não foi? E teve o Alexandre, que foi estudar matemática em Lyon. E a Diana, que foi morar um ano na França. E o Salgueirinho, que foi passar uns meses no Québec. E mais alguns alunos que me contaram com um sorriso nos olhos que conseguiram comprar uma calça ou um croissant em alguma viagem, falando francês. Então valeu a pena. Né? Ajudar a colocar um sorriso nos olhos de alguém?
Então hoje acho que oportunidade pra se doar um pouquinho e fazer diferença na vida de outras pessoas é algo que tá em tudo que é lugar, em tudo que é escolha, em tudo que é opção profissional. Eu que era boba, e não entendia. ;)
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