Dois Contos de Lojistas
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por Ana Farias |
Eu tenho o maior respeito por lojistas. Imagino a chatice que deve ser lidar todo dia com gente, porque né, tem gente que é muito difícil.
Por isso sempre chego com sorriso, voz calma, educação, e é meio assim que a gente consegue quebrar qualquer ranço de mau humor deixado pela cliente antipática que acabou de sair. Geralmente dá certo.
Mas é aquilo. Existe gente difícil. Atendente é gente. Logo, Steve Wonder é Deus.
Acredito sinceramente que a maioria das situações que ocorrem são causadas por despreparo. Muitas vezes é falta de educação de uma ou de ambas as partes mesmo, mas geralmente é falta de alguém ensinar a lidar com dificuldades. E às vezes é inaptidão mesmo, porque tem muito vendedor que ignora coisas básicas da própria profissão.
Acham maldade minha? Tentem perguntar por ankle boots. Peep toes. Ninguém é obrigado a saber inglês? Ok, tentem explicar o que vocês estão procurando.
Então tem dois tipos de vendedor despreparado que eu não aguento: os que desconhecem o que vendem, e os que agem como se estivessem te fazendo um favor em existir.
Exemplo de ambos tive essa semana:
1 - Na Americanas (nas Amer... whatever), assim que cheguei ao caixa, avisei à menina que iria comprar uma sacolinha eco pra colocar as compras. Não peguei antes porque ao invés delas ficarem no começo da fila, ficam próximas à saída, go figure.
Mas tudo bem, coisa de 30 segundos. Deixei as paradas no balcão, caminhei 5 passos até a bolsa, 5 passos de volta, e... a garota tinha colocado todas as minhas compras numa sacola de plástico. Daí ela passou a bolsa que eu tinha pegado na maquininha, cobrou, abriu, e colocou dentro a sacola de plástico com as compras.
Ninguém explicou pra ela que era pra estimular os clientes a trocarem o plástico pelas ecobags? E, meo, qual o sentido em colocar uma sacola dentro da outra? Eu não sou a louca das sacolas!
Enfim, só olhei com cara de Q, paguei, dei boa noite e fui embora, pensando em mil outros casos bem piores (tentem comprar base).
2 - Agora um exemplo muito mais grave, que eu simplesmente não entendo: atendente "Dona Clotilde" (a Bruxa do 71). Sintam o drama.
Ando procurando uma blusa muito básica, de malha bonita, manga 3/4, corte simples, sem enfeites, em várias cores. Não encontro em lugar nenhum, uma decepção. Nem na Hering, porque lá eles só fazem 3 tipos de mangas: regata, curta, e longa. Média não existe.
Mas aí tava no shopping aqui da Região Oceânica, e, passando em frente a uma loja, percebi uma blusa que poderia ser o que estou atrás. Entrei, pedi pra uma menina me atender. Ela pegou a blusa em questão, e era só metade do que eu queria, já que na frente era toda adornada. Expliquei que queria exatamente aquela blusa, sem os enfeites.
Fácil de entender, né? Mesma. Blusa. Sem. Enfeites.
Vocês não fazem idéia das coisas mais loucas que ela me mostrou, tudo extremamente diferente do que eu tinha pedido. E eu repetindo educadamente manga 3/4 sem enfeite, manga 3/4 sem enfeite, manga 3/4 sem enfeite.
Vocês não vão acreditar. Depois de uns dois minutos, a mulher começou a bufar, a me olhar de esguelha enquanto batia os cabides de acrílico uns nos outros, e a pegar qualquer coisa que visse, dizendo "é isso que você quer?" como se eu fosse uma abusada de querer algo que não tinha na loja.
Viu, era só dizer "olha, eu acho que infelizmente não tenho o que você está procurando". E, se quisesse muito trabalhar a venda, "mas se você me der um tempinho, eu continuo procurando aqui pra você. Não quer dar uma olhadinha na loja enquanto isso?". Nada, só bufava.
Quando vi o ânimo da pessoa, saí de perto, pois o dia tava muito lindo praquilo, e fui ver uns colares. Peguei um e já ia perguntar o preço quando chegou outra mulher, com cara de dona ou gerente, e me perguntou exatamente o que eu estava querendo. O que a bonita lá de cima fez? Quase gritou arrancando os cabelos: "ela quer uma blusa SEM NADA, SEM NENHUM DETALHE, SEM NADA". Estressada, gente, estressada!
Olha, mas me deu uma pontada no coração. Porque eu não tinha feito nada contra aquela pessoa, nada além de perguntar humildemente por uma coisa muito específica. Era dia de TPM e tipo me deu um nó na garganta, sabem como. Aí eu coloquei o colar (que queria comprar) de volta no manequim e disse pra ela "quer saber? pode deixar pra lá".
E aí aconteceu o mais engraçado: ao ir saindo da loja com aquele sentimento de que ela-merecia-ouvir-mas-eu-sou-fina, vi de canto de olho a criatura me olhando congelada em surpresa, como se eu tivesse dado alôka! Como se fosse eu que estivesse fazendo a Amy ali na loja!
Olha, esse tipo de vendedora frustra muito. Porque não é todo dia que você tá afim de dar lição de moral, né. Aí tem de engolir o destrato.
Mas eu sempre parto do princípio que a experiência vai ser boa, né, então entro em toda loja com o polyanna feelings mode on. Fé na vida, fé no homem, fé no que virá.
E vocês, histórias tragicômicas pra contar? Sempre, né.
Ana