Vocês sabem o que é um publieditorial?
Categoria(s) S.A.C. |
por Ana Farias |
A nível de criar um clima mercenário, esse post deve ser lido ao som de The man who sold the world, do fantástico David Bowie (DB, pega eu!).
Pra quem preferir, tem versão do Nirvana AQUI. A Vivi prefere, mas achei que o Kurt Cobain tava sujinho demais pra aparecer nesse blog.
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O babado chamado publieditorial. Temos certeza de que essa discussão não é preocupação da grande maioria das leitoras de blogs. Mas entendam da seguinte maneira: esse assunto, digamos, teórico da blogosfera, interessa a todas vocês. Pois tem a ver com credibilidade. E com opinião também.
Você acredita que pode confiar no que lê ou ouve? Isso vale pra qualquer tipo de mídia, é claro, mas vamos tratar da nossa aqui, os blogs. O texto é longo, mas tenham paciência que o tema é importante.
Então, os famigerados publieditoriais. O que são? Comofás?
Publiedioriais são anúncios feitos por empresas dentro de alguma mídia. Trata-se de uma COMPRA de espaço, logo envolvem money, dindim, bufunfa. Em blogs, o chamado “post pago” é uma divulgação de empresas interessadas em sites com boa visibilidade no segmento que lhes interessa – e “boa visibilidade” tem a ver com números, é claro, não com bom conteúdo. Afinal, pra que uma campanha na internet atinja o público alvo, é necessário que o blog seja muito visitado – coisa que todo mundo sabe que nem sempre tem a ver com qualidade.
As agências já perceberam o potencial das “mídias sociais” (todas nós que blogamos, amigas, TODAS, não importando aqui o número de “seguidoras”), mas ainda estão aprendendo a lidar com a coisa. Ou lidam com má-fé, oferecendo sardinha (brindes, “parcerias” que rendem um mini-rímel por mês) quando o espaço vale caviar (dinheiro grosso, ou algo do tipo).
Convenhamos, blog é novidade, e muita gente boa do marketing ainda não sabe lidar com a ferramenta – o que gera um desperdício mega pra eles mesmos. E os blogueiros também estão, aos poucos, aprendendo o que representam e quanto vale o próprio espaço. Porém, algumas vezes, não existe ingenuidade de nenhum dos lados, e enquanto um compra barato, o outro sustenta a peixaria. Como em várias situações cotidianas, vamos combinar. Aos poucos tudo entrará nos eixos, acreditamos.
Uma campanha bem dirigida por uma agência, e bem desempenhada por um blogueiro, tem possibilidades de abordar um número de consumidores em potencial às vezes muito maior do que se feita dentro de um veículo mais abrangente, que chega até mais pessoas, mas não a mais pessoas necessariamente interessadas naquele segmento. Mas tem que ser bem feito, senão o tiro não é no alvo, mas no pé. Isso porque publieditorial é terreno minado. Se mal feito, pode gerar mais desconforto e ojeriza do que interesse, afinal envolve quantias.
Se eu digo que recebi pra escrever certo post, que garantias posso dar que vocês vão achar que aquele é apenas mais um post, ou se vão achar que só estou dizendo aquilo porque tão pagaaaanuu? E tem mais: o que eu faço quando encontro um publieditorial numa revista é virar a página. Tiro vocês por mim, não subestimo de forma alguma a capacidade de compreensão ou a percepção de quem visita a gente. Então por que cargas d’água colocaria em risco minha credibilidade e, conseqüentemente, o interesse de quem abre mão de alguns minutos do próprio dia pra vir aqui ler o que eu escrevo?
Eu sei quem sou, e ainda não toparam pagar meu preço, mas e vocês, colocariam a mão no fogo por mim? Claro que não. No final, amigas, toda alma desse mundo vai dizer que é sincera. Mas como ter certeza? Não existe certeza. Como em tudo na vida, a gente acredita ou desconfia, não tem jeito. É muito fácil chegar aqui e abrir minha boca cheia de dentes, bradando que não me vendo. Malzaê, por experiência a gente sabe que todo mundo tem seu preço, seja ele 2 ou 2 bilhões de reais. Me ofereçam aí uma viagem de 6 meses pela Europa, tudo pago em hotéis legais, compras liberadas na seforrá, e eu faço sim comercial de lactopurga, sorrindo pra câmera e fazendo cara de aliviada, falomesmo.
Mas voltando, tem um texto da Rosana Herrman (AQUI) que eu gosto muito, e tem uma parte que ela fala assim:
“(...) Os blogs se transformaram em mídia, e, como toda mídia, podem gerar receita através da venda de espaço. Mas uma coisa é você oferecer o espaço do seu blog, como quem oferece o sofá da sala para um vizinho fazer sexo com a esposa dele. Outra coisa é você oferecer o sofá e a sua própria mulher para o seu vizinho. Porque o sofá é espaço, mas a mulher é conteúdo”.
Como entendemos isso no Twins: a gente faz propaganda de graça porque, como sempre dizemos, foi assim que o blog surgiu: “oi amiga, já viu esse creminho aqui?”. E nunca falaríamos bem de alguma marca em troca de coisas pelas quais, convenhamos, podemos PAGAR pra ter (se não hoje, ali na frente, não temos pressa). Aqui não tem essa de empresa mandar produto pra gente resenhar. Se quiser mandar que mande, mas isso não é garantia de post, e muito menos de post favorável. Tem muita coisa que a gente já recebeu e que não veio pro blog porque não nos interessou como pauta. Isso é oferecer o sofá, mas manter... uhn... o marido né gente, bem longe da história.
Se vocês não vêem muitos posts negativos, é por uma questão de postura mesmo: se não gostamos de algo, não nos sentimos no direito de detonar o que quer que seja por causa de uma opinião pessoal. Vamos que produto X me dê alergia. Tipos, porque deu alergia em mim o produto é ruim, ou o produto é ruim pra mim porque me deu alergia? Da mesma forma, quando é bom, dizemos que foi bom pra gente, mas pode não ser pra todo mundo. Não existe nada nesse mundo que agrade a gregos e troianos. O que decidimos de uns tempos pra cá, conforme o foco do blog se desenhava, foi que só falaríamos mal de coisas universalmente aceitas como tal, tipos é ruim pra mim e com certeza será pra você: vendedora despreparada, maquiagem vagabunda (e mesmo assim há quem goste), creme vencido, máscara de aspirina, e por aí vai.
Achamos de verdade, apesar dessa questão de credibilidade x grana, que nós que blogamos temos todo o direito de receber dinheiro de vez em quando, se for o caso e existir a oportunidade, desde que o foco do blog admita essa “dinâmica”. Afinal, existem blogs e blogs. Até brinquei com a Ale Garattoni, que é contra sorteios (por um motivo muito válido, inclusive): “você ia fazer sorteio de que no IG, fia? De Birkins?”. Sorteios e publieditorial e mini-rímeis (he) são coisas que pouco interessam a ela.
Mas vamos falar especificamente do Twins: sendo nossa abordagem o consumo inteligente, pra dar a dica certa pra vocês precisamos ser consumidoras... uhn... não tão inteligentes assim, eu e a Vivi. Nosso gasto não é só de tempo, envolve dinheiro também. Por isso é ótimo quando as empresas nos enviam produtos para testar. A gente sabe que o custo deles por essa possibilidade de publicidade é zero, não somos ingênuas. Mas se fosse pra comprar todos os produtos que queremos testar, o gasto seria algum outro número aí, seguido de muitos zeros. E receber material de empresas não nos torna vendidas ou mentirosas, apenas quebra um galho: significa que, se gostarmos do produto, teremos assunto pra mais um post, ao invés de versar sobre o cri-cri dos grilos.
A gente preferiria receber dinheiro, isso é fato. É, dinheiro que desse pra comprar o tal produto e outros vários, e pagar as contas, e levar os amigos pra jantar sushi, beber saquê, comer uma sobremesa maneira e ainda bancar o táxi de volta pra casa. E uma ponte aérea de vez em quando. Ou seja, é de nossa real e sincera vontade vender espaço publicitário no Twins, cedendo campos para banners de bom gosto e de produtos e marcas que tenham a ver com nosso conteúdo.
Pra gente, ganhar dinheiro com um blog não é necessariamente receber para colocar opiniões prontas dentro dele. Existem mil oportunidades que podem surgir pelo reconhecimento de um trabalho bem feito, de pesquisa, bom texto e originalidade. Um blog é a vitrine de seus editores, um portfólio de pessoas que, se souberem e quiserem desenvolver um trabalho sério nesse canal, podem sim, encontrar um novo tipo de trabalho em mídia. O que não significa ser homem-sanduíche (pra quem não sabe, são aqueles senhores que se vestem com uma placa do tipo "compro ouro" na frente e "marmitex R$3,99", atrás).
O mal entendido, no geral, é que como os blogs começaram como ferramentas de expressão pessoal quase "íntima" (os diários virtuais), ainda se mantém aquela imagem de que blogar é sentar relaxadamente em frente ao micro e falar sobre o que der na telha. Ou no Google, néam. Mas não é bem assim. Não hoje, não mais. Podemos nos arriscar a dizer que 70% do trabalho de um blog de conteúdo é “na rua”, na pesquisa, na vivência. Escrever é apenas 30% do processo. E ainda assim, para acertar a mão, demanda-se tempo e dedicação.
Mas enfim. Estamos falando de espaço de banner. Já em relação à publieditoriais, aos textos, não temos opinião formada ainda sobre fazê-los ou não. Estamos a Suíça, neutras. Isso porque, se por um lado achamos justo receber dinheiro por uma publicidade, por outro temos problemas éticos que ainda não resolvemos em relação aos posts pagos. Primeiro porque não admitiríamos que comprassem nossa opinião junto com o espaço (o tal sofá + a própria mulher que a Rosana Herrman citou). Segundo por causa da questão da credibilidade colocada em jogo pelos leitores, citada mais acima. Terceiro porque existe uma questão técnica: tem quem defenda que os publieditoriais devam ser textos “prontos”, que deixem claro pro leitor do blog que aquilo não é do blogueiro, e, como compra de espaço, não é necessária sua apreciação do produto. É pá pum, eu publico, tu me pagas. Como numa revista. E isso é uma coisa que não gostamos: no Twins, a gente quer escrever do nosso jeito. Vocês nunca viram sequer um briefing publicado aqui. A gente sempre se dá ao trabalho de ler, entender, pesquisar sobre, e reescrever da nossa maneira.
Já fomos sondadas pra fazer publieditoriais, mas ou o cliente não levou o projeto adiante (quando a grana era boa), ou então nós declinamos educadamente (porque a grana não pagava dois blushes da MAC, então né). Ou seja, amigas, aqui nunca houve post pago. E, apenas por causa disso, vocês nunca leram a famosa frase “isso é um publieditorial”. Infelizmente, porque uma graninha ia bem. E se por acaso um dia houver, o blush não terá sido comprado em troca de opinião (não temos como provar isso, entretanto. É acreditar ou trocar de canal). E, enquanto o publieditorial não vem, só escrevemos “isso não é um publieditorial” quando queremos ser sacanas. Que não é, é óbvio, pois não está escrito que é. Entenderam o pensamento rocambólico?
Agora, isso é o que eu e Vivi pensamos e fazemos aqui NESTE blog. É óbvio que o resto do mundo tem a liberdade conquistada de pensar e de fazer diferente, porque opinião, minha gente, é igual a cor dos olhos. Cada um tem a sua. E se tem papel pobre nesse mundo é o de quem resolve que tem gabarito pra ser patrulheiro da humanidade, né não? Nós é que não queremos isso pra gente. Somos a favor de sorteios, se nosso blog não se resumir a isso; somos a favor de “presentes” de empresas, se não nos obrigarem a assinar nossas almas em troca de um mini-rímel; somos a favor de fazer posts pagos, se for de uma marca que gostamos, e se o texto for nosso, e se a grana for boa; enfim, somos a favor de poder fazer o Twins como quisermos, sem interferência de patrulha, e enquanto for divertido. Quando não for mais, vocês vão perceber.
Resumindo essas mil linhas: minhas quéris, respeito é bom, e todo mundo gosta, então cada um com seu cada um, seja ele com ou sem publis envolvidos.
Ou, como disse melhor a Ale Garattoni AQUI:
“Eu não quero fazer post pago, mas não acho errado uma pessoa fazer se quiser (desde que coloque no texto que se trate de um publi). Eu não faço sorteios de outras marcas – porque considero isso como um post pago –, mas não acho errado a pessoa querer oferecer isso a seus leitores. (...) só posso dizer que sinceramente respeito muito todas as escolhas, todas as formas de se fazer as coisas. Tenho a minha – e sou bem radical em relação a ela –, mas estou longe de classificá-la como a única certa do planeta”.
A gente fecha com gente educada assim. Porque, mesmo sem concordar com a opinião inteira, a coisa é colocada de uma forma tão pacífica que a gente fica tentada a rever certos conceitos. ;)
Pra quem chegou até aqui (blogueiras amigas, alo-ou!), nosso beijo e respeito, sempre.
Ana e Vivi.
Para ler mais: Inagaki e Caio Novaes.