Sobre Peso
Categoria(s) off-topic, S.A.C. |
por Ana Farias |
Falando sobre o post abaixo, da Vivi (tinha colocado como adendo, mas o texto ficou longo demais lá), sobre a falta de divulgação do desfile voltado para manequins 44+.
Então, meninas, eu estava querendo falar mesmo do evento, mas foi impossível. Primeiro mandei um email pro GNT perguntando se haveria algum tipo de cobertura sobre o evento no site. Não, as matérias terminavam com o desfile de modelos normais (palavras minhas). Daí escrevi pro próprio evento, pedindo material pra publicação. Nunca tive qualquer tipo de resposta. Daí outras coisas foram acontecendo, acabei me esquecendo do assunto, e pelo que a Vivi disse o próprio site não orna o que divulga.
A Marjorie perguntou nos comentários se o assunto era tabu por aqui. Claro que não. Eu mesma estou bem acima do meu peso normal (que nunca foi muito baixo, pois meu biótipo não é longilíneo), e por algum motivo isso ofende algumas pessoas - daí de vez em quando a(s) ofendida(s) resolve(m) ofender de volta. Não falo muito disso não por vergonha de me expôr, mas porque esse assunto não é importante pra mim. Eu olho pra alguém e não vejo peso, cor, tipo de cabelo, eu só vejo gente. Não julgo pela aparência, porque por trás dela tem sempre muito mais que eu desconheço - e esse muito mais é algo que às vezes nem a gente sabe o que é, como os outros podem saber?
Esse é o motivo principal pra não me deixar afetar pelo que os outros pensam. Ninguém sabe da minha vida, eu não sei da vida de ninguém. A gente só tem uma noção do que seja essa outra pessoa do nosso lado, essa outra pessoa que escreve o blog, essa outra pessoa na novela das sete. No fundo, ninguém sabe da dor e da delícia de ser ninguém mais além de si mesmo. Como disse, tem gente que não tem noção sequer da própria dor, sequer da própria delícia. Ninguém sabe o que está por trás de um sobrepeso, ou de um sorriso. As máscaras estão em todo lugar (e nem sempre vão cair, apesar do que dizem todos os BBB's há dez anos). Quem somos nós pra criticar o que desconhecemos?
Enfim, esse preconceito todo com quem é ou está gordo é um absurdo. Poderia dizer mil exemplos de outros preconceitos absurdos que dão cadeia, mas com certeza a patrulha do politicamente correto assumiria o post, e não é essa a minha intenção. E o problema de não ter conseguido nenhuma informação sobre um evento que me interessava (e a muitas de vocês, pelo que aconteceu nos comentários do post sobre efeito cinta), é muito simples: no fundo, no fundo, pouca gente acha que ele seja importante. Já viram algum "grande estilista" que abrace a causa? Não, porque estar acima do peso, logo comer demais, não é saudável. Saudável é se privar de comida até o estômago arder.
Não me entendam mal. Eu sempre acho que o saudável é o caminho do meio - só que, por motivos que não pretendo revelar aqui, por serem extremamente pessoais, tem sido difícil me manter, ou mesmo me encontrar nesse caminho do meio. Problema que é só meu, apesar de ter amadurecimento suficiente pra saber que não é exclusivamente meu, pois a bagunça existencial só não é normal em bicho. A questão é que a dúvida se revela diferente em cada um, e cabe apenas a cada um encontrar sua própria trilha. A única coisa que não entendo nessa vida, meninas, é a maldade nua e crua. Tirando isso, tudo é humano, tudo é relativo. Pelo menos é o que venho descobrindo. Pra algumas de vocês não deve ser assim (oi? anônimas com limão correndo nas veias?).
Não acredito que a curto, ou mesmo médio prazo, as coisas mudem no mundo da moda. Afinal, o tal sample size, a grande desculpa pra se provocar anorexia nas modelos (e esse sentimento de dissabor consigo mesma no resto das mortais), precisa ser feito pra crianças de 5 anos, mesmo que quem vá usá-lo já tenha 10, 15 anos a mais que isso. É a regra. E enquanto isso fico eu sem conhecer marcas que façam roupas legais pro meu tipo físico - de repente é mais fácil eu voltar pro manequim 40, ou até mesmo "galinha nascer com dente", como dizia minha vó.
Pra finalizar, isso não foi um desabafo. É apenas uma opinião que eu quis revelar aqui. Desabafo geralmente pressupõe um mal-estar íntimo, que não é de forma alguma o que sinto em relação ao tema. Acho injusto, como acho injusto muitas outras coisas no mundo. Mas não me afeta tanto assim. Tem muito mais coisa na vida além de se caber num vestido. Frustrante, às vezes sim, muito. Mas esse sentimento não me define, pelo menos não em relação à moda.
Como disse o jornalista nessa matéria do UOL enviada pela Carla Jaróla, "não se deixe enganar: aproveite as roupas, ignore a lavagem cerebral".
E que o desfile das Xiseles tenha uma cobertura melhor no ano que vem! ;)
Ana
Texto imperdível: Coco Rocha, quebrando o estereótipo de modelo bobinha. Virei fã.