Investir ou Resistir?
Categoria(s) compras |
por Vivi |
A questão que permeia o pensamento da consumidora: compro ou não?
Nosso blog é centrado em consumo e seria no mínimo incoerente fazer de conta que desconhecemos esse tipo de dilema desejo x marca x produto x necessidade.
Fazer a egípcia nessa hora não traz benefício pra ninguém, então por mais polêmica que seja a questão, cartas na mesa!
Fato: consumimos quantidades absurdas de produtos de higiene e beleza; muito além do que precisamos, mas também muito menos do que desejamos. Por quê?
Numa análise comportamental feita com toda minha psicologia adquirida na banca de jornal, podemos observar duas coisas importantes:
- necessidade
- desejo
Necessidades
Nosso organismo precisa de higiene e proteção contra agressores externos. Ou seja, agentes de limpeza + protetor solar à base de pasta d'água, por exemplo.
Desejos
Eu quero ficar limpinha e protegida, mas de alguma forma me sentir ainda mais gratificada com isso. Quero um shampoo que limpe, hidrate e tenha perfume de salão ryco + protetor solar rapidamente absorvido pela pele, com efeito matificante, que substitua a base, seja foto estável e contenha antioxidantes.
Perceberam que entre minha necessidade real e meu desejo existe pelo menos 80% de acréscimo no valor final do produto, com o fator "qualidade" embolado aí no meio?
Aí começam as discussões intermináveis, onde termos como vaidade excessiva e futilidade são amplamente utilizados.
Normalmente quem começa esse tipo de discussão está pensando apenas na questão financeira. Muito bem, já que a questão é mesmo muito importante e crucial para 99% da população terrestre, ou seja pra todos nós. Mas ao mesmo tempo é tão desagradável e desgastante ter que ficar justificando porque a gente quer um Sun Protection Compact Foundation SPF 34 PA+++ Shiseido que normalmente concordamos com a cabeça e acabamos cheios de culpa depois só por querer ou, pior ainda, por ter realmente comprado o superproduto.
O que pouca gente assume é que o incômodo maior reside no fato de nosso país ser um dos pontos mais caros do planeta para adquirir produtos de grandes marcas e que as mesmas pessoas que condenam nosso amor cego por produtos da marca X (que tem qualidade e resultados supimpas) são as mesmas pessoas que têm acesso garantido a compra desses mesmos produtos lá fora, por conta de viagens constantes.
Quer dizer, o grande problema é que queremos os produtos e efetuamos a compra deles aqui mesmo, ainda que pagando mais caro e fazendo uso do parcelamento no cartão de crédito, criado justamente para esse tipo de consumo. Daí o bom produto vira vilão. Já comprar lá fora pela qualidade e preço bem mais baixo vale a pena e valida o desejo.
Pagar pelo preço cobrado aqui na terrinha, então, é a burrice. Assim, quem não viaja está condenado a "ser burro" por querer consumir com qualidade, dentro de suas possibilidades?
É um ato de inteligência superior comprar 22 batons de R$4, quando o que eu quero na verdade custa R$90 aqui no Brasil? É justo me chamar de deslumbrada por isso, por querer um batom enquanto posso ter 22 e entre esses 22 nenhum deles é aquele que quis desde o princípio?
Devo ignorar que uma base de R$200 aqui, pode custar U$60 lá fora, mas que eu não vou pagar U$60 simplesmente porque não tenho condições de viajar nesse momento? Devo comprar uma base de R$30 por isso ou investir em um parcelamento coerente, por um produto que ficará em contato com minha pele por quase 12 horas por dia?
Meu ponto é, consumo inteligente não é apenas consumir o imediatamente mais barato. Dizer que shampoo é shampoo e batom é batom e que é tudo a mesma coisa, com exceção do preço é, no mínimo, fruto de inocência. O melhor que posso dizer pra vocês, baseado naquilo que vivencio é: primeiro experimente, depois forme sua opinião.
Existem dezenas de maneiras de um produto com a mesma função ter um diferencial gritante em relação a outro. Talvez centenas de maneiras, dependendo do produto.
A inteligência no momento da compra é justamente aquela tão alardeada por quem consome produtos de valor acima da média: quanto vou me beneficiar com esse produto? Quantas vezes vou usá-lo? A função e o benefício que ele proporciona é aquilo que eu preciso?
Pesando todos esses fatores e consciente de sua verba disponível, faça sua escolha. Aqui ou acolá, não interessa. O que importa é que você, e só você, deve ser responsável pela sua decisão de compra, não os vendedores e muito menos os críticos de plantão.
Vivi
E a indústria nacional?
Pobre do fabricante que ousa pensar me matéria prima superior ou processos modernos de fabricação... É feito no Brasil? Tá caro! tá caro! tá caro!
Pequeno update da Ana:
Resta pouca coisa a dizer depois desse ótimo post, então vou só fazer uma colocação. A única coisa que discordo no meio de tudo que a Vivi disse, se é que isso significa discordar, é que hoje em dia sou absolutamente contra parcelamento de cartão na hora de pagar pelo DESEJO. Porque vamos ser sinceras, é rara a pessoa que consegue se controlar com um Visa na mão. Nem meu pai, que é o sujeito mais taurino da face da Terra. Hoje, depois de anos afundada em dívidas que eu nem sabia que tinha adquirido, e de parcelamento rolando com juros e juros a perder de vista, posso dizer que me livrei do problema. Só parcelo compra de NECESSIDADE, e mesmo assim só em caso de coisas absurdamente caras pra minha conta bancária.
O que quero dizer com isso: só parcele seus desejos de beauty no cartão se você tem costume e condições financeiras de abater o valor total da fatura no dia do vencimento. Se não é o seu caso, como acabava nunca sendo o meu, compre com o coração apenas quando o dinheiro estiver nas suas mãos, todinho. Faça um cofrinho. A melhor coisa do mundo é não se endividar, e não existe pessoa melhor pra falar sobre isso do que eu, viu.
Tirando isso, que não era o foco do post, aliás, assino embaixo de tudo o que a Vivi falou. :)
PS do PS, esse é da Vivi (rs)
Essa questão que a Ana levantou é muito importante. Consumo inteligente tem a ver também com controle emocional em dia. Do mesmo jeito que é difícil segurar a panela de brigadeiro para algumas pessoas, manter a rédea curta no cartão é tentação capital para outras. Mas é tudo uma questão de maturidade e autocontrole, é uma coisa que ninguém pode fazer por você, tipo escolinha da vida mesmo.
Sabe aquele exemplo de que armas não matam pessoas, mas pessoas que apertam o gatilho, sim, matam pessoas? Mesma coisa. O cartão não fará uma compra sozinho e menos ainda vai pagar o valor mínimo da fatura se você não autorizar. Os juros são altos, mas quem consente o pagamento é você. Tenha a força! Crédito é um facilitador na hora de conquistar coisas. Quem transforma em problemas somos nós.
A Lu perguntou nos comentários por que eu não compro em sites internacionais que entregam no Brasil. Compro, sim, Lu, mas muito raramente. Normalmente quando o produto não é vendido no Brasil e nenhuma das minhas vendedoras de confiança tenha***. Porque:
a) por não ter paciência em esperar chegar.
b) pelo risco de ser taxada e
c) o fator mais importante: idealismo.
Sei que é uma bobagem da minha parte e que poderia me beneficiar muito comprando fora, mas tenho essa porção idealista ferrenha pulsante, que apesar de todos os contras e pesares, acha que precisa fazer a sua parte, mesmo que seja aparentemente mínima e que nem faça cócegas na economia nacional. Gosto de pensar que estou ajudando, de alguma maneira a manter empregos em lojas, transportadoras, distribuidores, enfim, quero pensar que estou fazendo algo que me fará feliz e ainda pode fazer outros brasileiros felizes, indiretamente (já que ter pais e mães empregados é primordial para a alegria de muitas famílias, né. Quem já teve pai desempregado vai entender na hora). E nosso nível de consumo nesse nicho (hiegiene e beleza) é gigantesco, tem representatividade assustadora.
Acho que não prejudico ninguém com minha escolha e, desde que me mantenha em meu orçamento, também não saio prejudicada.
Mas não sou xiíta nem panfletária, tanto que Renata Kelly está aqui no blog toda semana, ensinando todo mundo a comprar direitinho lá fora, se assim preferir.
:)